Central de Exames Neurológicos

Santiago, 28 Abr 2021 (AFP) - O Chile embarcou em uma aposta pioneira para legislar um futuro no qual filmes como "Matrix" não serão apenas ficção científica e a neurotecnologia e o ser humano cruzarão seus caminhos, e busca consagrar em sua Constituição os "neurodireitos" ou direitos do cérebro.

É uma aposta visionária para quando as histórias futurísticas e distópicas se tornarem realidade, como as do filme "A Origem" (2010), na qual se muda o comportamento humano por meio da implantação de ideias no cérebro, ou "Matrix" (1999), no qual o protagonista tem conhecimentos instantâneos com a instalação de um programa em seu cérebro. 

Para evitar alguns usos futuros da neurotecnologia, o Chile tramita uma reforma constitucional que acrescenta a ideia de preservação "da integridade física e psíquica" do indivíduo para que "nenhuma autoridade ou indivíduo" possa, por meio da tecnologia, "aumentar, diminuir ou perturbar essa integridade individual sem o devido consentimento".

O projeto já foi aprovado no Senado com unanimidade e está pendente para um segundo trâmite na Câmara dos Deputados para se tornar uma realidade incorporada na Carta Magna chilena.

O objetivo final seria controlar neurotecnologias de leitura e escrita do cérebro que podem registrar os dados mentais de uma pessoa e, no futuro, alterá-los ou adicionar novos.

- Primeiro no mundo -"Se essa tecnologia conseguir ler, antes inclusive que você tenha consciência do que está pensando, pode escrever em seu cérebro emoções, pensamentos, histórias de vida que não são suas e que seu cérebro não vai saber distinguir se são resultado dessa tecnologia ou se são seus", afirmou o senador opositor Guido Girardi, um dos promotores desse projeto.

Daí a importância de legislar agora uma realidade ainda imaculada que poderia ameaçar "a essência do humano, sua autonomia, sua liberdade e seu livre arbítrio", reiterou Girardi.

A nova proposta poderia ser a origem da jurisprudência dos futuros direitos humanos. O ministro da Ciência chileno, Andrés Couve, disse à AFP que o debate dos "neurodireitos" faz parte da "consolidação de uma nova institucionalidade científica no país, que hoje está chamando a atenção internacional".

O presidente Sebastián Piñera propôs na recente Cúpula Ibero-americana que os países da região legislem juntos sobre os direitos do cérebro.

- Realidade ficcional -O projeto pretende legislar sobre quatro campos básicos: proteger os dados da mente humana ou "neurodados", estabelecer os limites da neurotecnologia de leitura e principalmente de escrita no cérebro, determinar uma distribuição igualitária de acesso a essas tecnologias e definir os limites dos "neuroalgoritmos".

O cientista espanhol Rafael Yuste, uma das maiores referências mundiais no assunto, da Universidade de Columbia em Nova York, afirmou que, embora soe como ficção científica, algumas dessas tecnologias já existem e as mais remotas poderiam levar cerca de 10 anos para se tornarem realidade. 

Já foi possível, por exemplo, implantar no cérebro de ratos imagens de coisas que eles nunca viram e que assumem como ideias próprias e incorporam em seu comportamento natural.

"Para evitar uma situação de duas velocidades com humanos que estão aumentados e outros que não estão, pensamos que essas neurotecnologias devem ser regulamentadas do ponto de vista do princípio universal da justiça com base no espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos", destaca Yuste.

- Um "Renascimento" na medicina -Em 2013, o ex-presidente Barack Obama promoveu o projeto liderado por Yuste para desenhar o mapa do cérebro e apresentou na Casa Branca seu compromisso de investigar as causas de doenças como Alzheimer, epilepsia e Parkinson, no plano conhecido como iniciativa BRAIN (sigla em inglês de Pesquisa do Cérebro através do Avanço de Neurotecnologias Inovadoras).

Hoje Yuste considera que "neurotecnologia" é um "tsunami" e é importante estar preparado para quando ele chegar.

"A neurotecnologia pode ser assustadora se você pensar em cenários distópicos de ficção científica, mas para cada cenário distópico existem 10 cenários benéficos", reconhece Yuste, acrescentando que vê "a incorporação da neurotecnologia para a humanidade como um novo Renascimento".

Os benefícios para os humanos já existem, especialmente no nível médico. A neurotecnologia é aplicada em pacientes com doença de Parkinson ou depressão por meio de estimulação cerebral com eletrodos para "aliviar os sintomas", explica Yuste, ou em surdos com "implantes cocleares no nervo auditivo" que incorporam microfone, captam sons externos e estimulam áreas do cérebro para que possam ouvir.

No futuro, espera-se que esse tipo de tecnologia seja aplicada também em cegos, assim como em pacientes com Alzheimer, por meio do reforço de circuitos de memória neural, acrescenta o cientista.

"Será uma mudança para melhor na espécie humana", diz Yuste.

 

 

Fonte: UOL

Pesquisas mostram que pacientes submetidos ao tratamento contra a síndrome respiratória têm reduzidos os danos hormonais ligados a diabetes e obesidade e ganham proteção cerebral. Para especialistas, os resultados podem melhorar a adesão à terapia

A síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um dos problemas de saúde mais comuns no mundo, e, na maioria das vezes, quem sofre com ela não busca tratamento. Esse cenário deve mudar, avisam especialistas da área. Resultados de pesquisas recentes ajudam a fortalecer o alerta. Há sinais, por exemplo, de que as terapias podem reverter danos — o problema crônico está ligado a alterações hormonais que desencadeiam enfermidades cardiovasculares e metabólicas, como diabetes e obesidade — e proteger a saúde neural, como menor risco de demência.

Durante o sono, uma pessoa com SAOS sofre paradas respiratórias provocadas pelo estreitamento das paredes da faringe, o que atrapalha a passagem do ar. Essas alterações interrompem o sono e desregulam o funcionamento dos ciclos circadianos, elementos essenciais para o equilíbrio do corpo. “São eles que regulam todos os nossos processos biológicos ao liberar substâncias importantes para a saúde de acordo com sinais que recebem dos ambientes externo, como luz e temperatura, e interno, a alimentação, por exemplo. Esse desequilíbrio é a base para o surgimento de diferentes enfermidades”, explica, em comunicado, Ana Rita Álvaro, pesquisadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, em Portugal.

Para entender o nível de prejuízos gerados pela SAOS, Álvaro e sua equipe acompanharam um grupo de 34 pessoas que foram avaliadas antes e depois de receberem a terapia de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, em inglês). Ao longo de dois anos e quatro meses, os cientistas coletaram periodicamente (duas vezes por semana) amostras do sangue dos analisados em quatro momentos diferentes do dia. O material foi avaliado com a ajuda de métodos apurados de bioinformática e de inteligência artificial. “Por meio das células presentes no sangue, conseguimos quantificar os níveis de hormônios liberados e enxergar melhor o funcionamento dos relógios biológicos”, conta Ana Rita Álvaro.

A equipe também percebeu que, durante a SAOS, havia alterações consideráveis nos níveis hormonais dos voluntários. “Os desequilíbrios foram constantes, como esperávamos, e geraram alterações que são preocupantes para a homeostase (equilíbrio) do organismo”, enfatiza a pesquisadora. Após o tratamento com CPAP, as alterações foram revertidas quase que completamente. “Esse estudo é um alerta para a importância do tratamento da apneia do sono, mostra que ele deve ser adotado por todos que sofrem com essa síndrome, o que não acontece. Defendemos também que o acompanhamento das alterações dos relógios biológicos pode servir como instrumento de análise da eficácia das terapias, ao mostrar se o paciente apresenta melhoras na retomada da homeostase do corpo”, completa Cláudia Cavadas, coautora e pesquisadora da universidade portuguesa.

Para Jefferson Pitelli Fonseca, médico otorrinolaringologista do Hospital Anchieta, em Brasília, o estudo mostra dados que reforçam o quanto a SAOS pode ser prejudicial, e a necessidade do tratamento. “Sempre comentamos essa questão, os pacientes querem acabar só com o ronco porque ele é o que mais incomoda. Elas chegam ao consultório apenas com essa queixa, esquecem dos outros danos que podem sofrer”, relata. “Frisamos, nas consultas, que o mais importante é retomar o sono reparador, é ele que regula a produção de elementos importantes para o funcionamento do organismo e nos protege de outras enfermidades. Como vemos nesse estudo, conseguimos conquistar esses ganhos com a terapia.”

Alzheimer

Além da reversão dos danos gerados aos relógios biológicos durante as noites maldormidas, o tratamento da SAOS pode reduzir os riscos de desenvolvimento de demências. A descoberta foi feita por pesquisadores americanos ao avaliarem dados de 50 mil beneficiários de um plano de saúde dos Estados Unidos com ao menos 65 anos e o diagnóstico da apneia.

Por meio da análise dos prontuários médicos, os pesquisadores observaram que as pessoas submetidas à CPAP tinham menos probabilidade de receber um novo diagnóstico de demência ou comprometimento cognitivo leve nos anos seguintes ao começo do tratamento, em comparação às que não tratavam a apneia. “Encontramos uma associação significativa entre essa prática terapêutica e o menor risco de Alzheimer e de outros tipos de demência ao longo de três anos, um intervalo de tempo bastante expressivo”, afirma Galit Levi Dunietz, professor-assistente de neurologia e epidemiologista do sono da Universidade de Michigan, nos EUA.

Os pesquisadores acreditam que as descobertas enfatizam o impacto do sono na função cognitiva e reforçam a necessidade de dormir bem. “Se existe uma via causal entre o tratamento de SAOS e o risco de demência, como nossos resultados sugerem, o diagnóstico e o tratamento eficaz dessa síndrome podem desempenhar um papel fundamental na saúde cognitiva de adultos mais velhos”, diz Tiffany J. Braley, professora de neurologia da instituição americana e também autora do estudo.

Padrão ouro

Trata-se de um pequeno aparelho compressor de ar silencioso, considerado o padrão ouro para o tratamento da apneia do sono. Esse dispositivo foi inventado pelo médico australiano Colin E. Sullivan, em 1981, e evita o fechamento da passagem do ar pelos pulmões. Melhora a qualidade do sono e também o surgimento de sintomas como dores de cabeça, cansaço, dificuldade de concentração e sonolência.

Avanços no diagnóstico

A fim de ajudar no diagnóstico da síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), estudantes de ciência da computação desenvolveram um aplicativo que ajuda a identificar os sinais da doença em casa. Chamada de ApneaTracker, a nova ferramenta monitora o ronco do usuário, por meio de um microfone, e a posição de dormir, por meio dos sensores de um relógio inteligente. Os cientistas da Finlândia pretendem disponibilizar o aplicativo em pouco tempo, mas destacam que ele serve apenas como um auxiliar no combate à apneia. Caso o aparelho indique a SAOS, é necessária a confirmação de um médico.

Já para ajudar a tratar a doença, pesquisadores belgas desenvolveram um dispositivo eletrônico semelhante a uma dentadura. Ele ajuda a melhorar a respiração dos pacientes e também consegue monitorar movimentos mandibulares. Por meio da tecnologia, os cientistas acreditam que a doença pode ser tratada com mais eficácia e em menos tempo, considerando os aparelhos atuais. A equipe vai testar a tecnologia fora do laboratório, mas testes iniciais se mostraram promissores.

“O mais importante é retomar o sono reparador, é ele que regula a produção de elementos importantes para o funcionamento do organismo e nos protege de outras enfermidades (…) Conseguimos conquistar esses ganhos com a terapia”

Jefferson Pitelli Fonseca, médico otorrinolaringologista do Hospital Anchieta, em Brasília

 

Impacto em reabilitações

Ganhos neurais desencadeados pelo tratamento da síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) foram detectados em outra pesquisa estadunidense. Os cientistas acompanharam, durante um ano, 252 indivíduos que tiveram derrames e sofriam com a síndrome respiratória. Metade deles era tratada com SAOS. A outra, não. Todos os analisados submetidos à terapia para a apneia do sono conseguiram recuperar a fala e movimentos perdidos em função do derrame em menos tempo. “Acreditamos que esses dados, mesmo que preliminares, sugerem que quanto mais cedo você tratar a apneia obstrutiva do sono em pacientes com danos neurológicos, melhor será a recuperação”, declara Dawn Bravata, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Regenstrief Institute e líder do estudo, publicado na revista Journal of the American Heart Association.

Marcelo Lobo, neurologista do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), explica que a relação do sono com a neurologia está ligada a uma faxina natural do cérebro. “No sono, nossas células fazem uma espécie de limpeza geral, e isso refina o funcionamento cerebral. A pessoa que sofre com a apneia não consegue chegar ao nível de sono mais profundo, que é onde ocorre essa limpeza. Com isso, as funções neurológicas e de memória ficam prejudicadas pela presença de produtos tóxicos”, detalha.

O médico lembra ainda que a apneia está associada à arritmia cardíaca, que aumenta os riscos de ocorrência de um acidente vascular cerebral. “Ao tratar essa enfermidade, evitamos que danos ainda mais severos aconteçam nas funções neurais”, frisa. Marcelo Lobo acredita que, com a ajuda da tecnologia (Leia Para saber mais), a resistência quanto ao tratamento deva diminuir. “Ainda temos dificuldades porque muitos pacientes não gostam de usar o CPAP, por ser um aparelho grande, mas opções menores estão surgindo. Tudo isso pode ajudar a aumentar a adesão.” (VS)

 

Fonte: Correio Braziliense

A decisão de optar por uma cirurgia na coluna para alívio da dor lombar crônica deve ser cuidadosamente considerada, levando em conta a gravidade dos sintomas, o diagnóstico preciso, a eficácia dos tratamentos não cirúrgicos anteriores e a avaliação do médico especialista. A cirurgia da coluna para alívio da dor lombar crônica é geralmente considerada quando:

  1. Conservador tratamento falhou: O paciente tentou métodos de tratamento conservador, como fisioterapia, medicamentos, injeções epidurais e outras modalidades de manejo da dor, mas não obteve alívio significativo dos sintomas.

  2. Sintomas graves e debilitantes: A dor lombar é intensa, contínua e interfere significativamente na qualidade de vida do paciente, limitando suas atividades diárias, mobilidade e capacidade de trabalho.

  3. Sintomas neurológicos: A presença de sintomas neurológicos, como fraqueza muscular, formigamento, dormência ou dificuldade em controlar os movimentos, indicando compressão nervosa na coluna.

  4. Condições estruturais identificadas: Existe uma condição estrutural específica na coluna, como hérnia de disco, estenose espinhal, espondilolistese, deformidade da coluna ou degeneração discal avançada, que pode ser corrigida por meio de cirurgia para aliviar a dor e restaurar a função.

  5. Progressão da deformidade espinhal: Em casos de deformidades progressivas da coluna, como escoliose grave, a cirurgia pode ser recomendada para evitar complicações futuras e melhorar a qualidade de vida.

  6. Dor crônica incapacitante sem melhora ao longo do tempo: Se a dor lombar crônica não melhorar após um período substancial de tratamento não cirúrgico e se tornar cronicamente debilitante, a cirurgia pode ser considerada.

É importante que os pacientes discutam detalhadamente com seus médicos, especialmente um cirurgião de coluna, para entender os riscos, benefícios, alternativas e expectativas realistas da cirurgia. O processo de tomada de decisão deve levar em consideração as preferências do paciente, seu estado de saúde geral e o impacto potencial da cirurgia em sua qualidade de vida a longo prazo.

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